Ecologia põe a mesa
A preocupação com a conservação dos recursos naturais permeia toda a sociedade. Gastronomia e moda apostam em novos padrões de produção, gosto e consumo
Eduardo Tristão Girão
O italiano Carlo Petrini, criador do movimento slow food: prazer sustentável
Até há não muito tempo – menos de uma década, para ser mais preciso –, o setor da gastronomia se mantinha no Brasil orientado sobretudo pelo prazer. Chefs, restaurantes, ingredientes, receitas. Tudo convergia para dentro da goela de uma recém-formada geração de gourmets curiosos e ávidos por satisfazer a fome de novidades. Gente querendo consumir (pratos, livros, programas de TV etc.) cada vez mais e melhor. Não que isso tenha mudado radicalmente, mas já é possível detectar impactos que a filosofia da sustentabilidade provocou na cena gastronômica. Já existe até expressão nova: ecogastronomia. Se hoje muita gente já começa a se importar com a origem dos alimentos que compra e com a maneira como foram produzidos e comercializados, uma das raízes desse comportamento está no movimento slow food. Criado nos anos 1980, na Itália, por Carlo Petrini, reúne hoje nada menos que 100 mil pessoas. Antes associado a gourmets preocupados em valorizar tradições regionais, o movimento abraça causa muito maior e está baseado na ideia de prazer gastronômico sustentável ao alcance de todos. Um dos desdobramentos dessa nova tendência é a interação entre pequenos produtores regionais e profissionais do setor de alimentos. Trabalhando juntos, seriam também guardiões da riqueza alimentar local. No Brasil essa interação já ocorre. São exemplos disso a aplicação de conceitos sustentáveis a produção de guaraná sateré-mawé, palmito juçara, castanha de baru, néctar de abelhas nativas e feijão canapu. Mas isso já não basta. Pelo menos é o que pensa o próprio Carlo Petrini. Durante sua passagem pelo Brasil, em março, declarou que os consumidores devem se considerar coprodutores. Para ele, não é questão de opção, mas necessidade: “O sistema atual é insustentável. Tornar-se coprodutor significa estar ciente de que o ato de comer é o último do ciclo que se inicia na terra e a ela retorna”. Por que não optar pelo alimento regional e sazonal, que requer o mínimo de transporte e atravessadores, diminuindo a poluição gerada pelo transporte e beneficiando a renda de quem trabalhou para fazê-lo chegar fresco à sua mesa? É nisso que acreditam os entusiastas da ecogastronomia, agrupando esses alimentos no chamado cardápio “zero quilômetro”, ou seja, tudo comprado de produtores das redondezas. Uma sacada e tanto para um setor visto como mera futilidade, como a gastronomia: ou a atitude sustentável se torna um prazer para todos ou não haverá saída para ninguém.
Fonte: Jornal Estado de Minas - Caderno: Pensar - 05/06/2010
sexta-feira, 11 de junho de 2010
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